segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Quase memória - Quase romance

A história inventada de pela realidade de um homem que viveu sonhos e construiu a cada amanhecer um dia grandioso e melhor. Este é “Quase-Romance” de Carlos Heitor Cony. Viver memórias, relembrar o que o esquecimento do tempo quase levou. É inevitável lembrar e abraçar o tempo que se passou, tal qual é quase impossível se ter tudo de volta. Cony se recorda da memória celebre e original de teu pai neste livro maravilhoso. Nos faz entrar em seu mundo particular de encanto e saudade. Recheado de aventuras nostálgicas, histórias de um país que ficou para trás e um suspense sutil e sagaz. Cony pai e Cony filho, personagens da vida e do tempo transcorre este quase romance ou quase biografia; ora com a tradicional maturidade e verdade do que se passou; ora com o deslumbramento da juventude saudosista. Ambas repletas de grandes coisas.

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“Tempo que ficou fragmentado em quadros, em cenas que costumam ir e vir de minha lembrança, lembrança que somada a outras nunca forma a memória do que eu fui ou do que outros foram para mim.”

Pág 95
Quase Memória - Quase Romance; Carlos Heitor Cony

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Perversa Confissão

A ação de minha vida é resumida em finais de semana confusos e sem rumo. O contato com forças de reação nunca existiu. Perigo e explosões são químicos sonhos reacionários. Por vezes o pranto extingue a luta. A revolução se tranca sem pensamentos, papéis e arquivos. Nada se transforma em direção exata, tudo se questiona.
Sem armas, apenas argumentos.
Prefiro o medo do acontecer ao sorriso amarelo da covardia.

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Perversa confissão é um thriller pequeno e sem muitos rodeios. Política, polícia, dinheiro e um cidadão perdido nas entrelinhas de uma morte. Clichê? Muito. Mas a trama conseguiu me envolver apesar de que os personagens deixam a desejar em estilo e ausência de detalhes. O livro conta o desenrolar da história de Tim Wallace, um engenheiro que perde a mulher em um acidente e a partir de uma confissão de um homem misterioso um policial obstinado tenta incriminá-lo por assassinatos dos quais ele nem sequer ouviu falar.


“No caminho de volta para o Paramus Park, Tim ligou para Nick e ficou aliviado quando ele atendeu o telefone. Contou-lhe o que acontecera, resumindo ao máximo, e depois disse:
_ Vá para o Paramus Park. A minivan cinza estará estacionada nos fundos do estacionamento. Dentro do carro haverá uma arma no banco da frente, que terá as impressões digitais do motorista. Na verdade, as impressões digitais de nós dois estarão por todo o carro.”

Pág. 109
Perversa Confissão - David Rosenfelt

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Bicho Solto

Já se imaginou a decadência de um ser vivo enlameado por linhas retas? Era tudo sempre reto e certo; como um rastro de lama deixado por uma lesma capitalista. Sempre seguir em frente. O que acontece quando uma paralela gostosa e sem limites cruza o seu caminho? O prazer de ser torto, envergado diante da sociedade se limita rapidamente a escoliose de um submundo monstruoso. A verdade triste de rosas murchas, nascidas em jardins babilônicos se enreda por terrenos daninhos e fertilizam a cruel realidade e o fim. A vida acelera o tempo quando mergulhamos em imagens deturpadas do ser. Quando se percebe o labirinto em que entrou o pranto pensa na lesma. Mas, você se tornou lento ou a lesma ganhou velocidade? Alcançá-la se torna primordial para ressuscitar sua vida. Embora suas pernas se embaracem, sua visão fique turva, o mundo gire e sua boca seque. Correr e deixar para traz a falsa adrenalina das curvas é o único modo de caminhar vivo ao lado da lesma merda do cotidiano. Abraçar e beijar o que resta do caminho, tentar desembaraçar para sempre o nó de outrora.
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O livro Bicho Solto de Fred Pinheiro nos conta de forma simples como é conhecer e reconhecer o labirinto a sua volta. Ir à procura de sua lesma e encontrá-la. Imaginei muitas pessoas durante a leitura; reconheci e me perguntei se também conseguiriam. Olhei para o céu e nuvens negras me ameaçavam; fechei os olhos e o vento tocou meu rosto, uma lesma em meu rosto.



“ Já nem me preocupava em injetar na veia água destilada com a cocaína. Usava água mineral, água de bica, água das mangueiras dos jardins dos prédios, a primeira água que surgisse pala minha frente. Mas nem água era necessário. Pois, em caso de aperto, utilizava meu próprio sangue. Retirava-o da veia, com a seringa, dissolvia nela a droga e injetava a mistura de volta para dentro.
Se tivesse de traçar uma esquina em minha vida, identificando o momento exato em que a euforia das drogas se transformou no inferno das drogas, diria que foi no segundo semestre de 1977. A barra começou a pesar de verdade.”
Pag. 58
Bicho Solto – O mergulho de um menino do Rio no mundo das drogas
Fred Pinheiro em depoimento a Ivan Sant’anna

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Prosa Patética: Reflexo Deformado

Por mais que sua imaginação fosse além do que seus poderes alcançam; sua vontade errante de deixar a felicidade tomar conta da vida do outro é maior. Assim ele começou a beber da água alheia, conteúdo digno de ser chamado de algo superior. Antes porém, havia a duvida sobre o que é o ideal. Se entregar à tentações de pobres infortúnios ou se resguardar em devaneios próprios? Conversou com várias pessoas distantes, ditando uma regra de sedução, uma linha e uma ligação que somente quem está longe pensaria em traçar. Mas a distancia é sonho em cabeças seduzidas, é pensamento de próximo dia, é vontade de ser real e de apalpar a virilidade do futuro. Levantou-se e no espelho viu o futuro das dúvidas de outrora. Sabia que tentações iriam lhe provocar e que seria alvo de olhares em desalinho. Camisa azul e hora desmarcada; não iria mais ver o que seu corpo repudiava. Andou pouco tempo por entre escadas e penumbras tristes. Buscou o combustível que seria o grande artista e protagonista de uma ópera de insanos. A casa; alta e suja. Pessoas feias e musicas amarelamente enjoadas. Ambiente conhecido por olhos vermelhos e cheiro característico. Iniciam-se os jogos. Palavras feias se cruzavam entre olhares de desejo. Belezas exóticas e insultos mudos se cariciavam em barulhos surdos. Sempre que se ouvia o grito do órgão desidratado uma nova história se iniciava a espera de mais um erro banal. Ele sabia muito bem o que estava acontecendo e o que iria acontecer. O antes, o agora e o depois nunca foi segredo quando a coragem se é devorada por feras covardes. Ele se levantou e caminhou até onde poderia saltar, gritar em ondas dobráveis. Quebrar o silêncio de sua educação mordaz. Pulou as ultimas regras que existia em seu âmago desestabilizado. Lembrou-se do espelho e de como seria ver alguém feliz. Sua vontade tão pouco importava. Relutou diante da oração de seus delírios angelicais, mas era tarde demais. Entregou-se em luz clara à altivez da mentira. Diante da confusão liquida e carnal da situação ensolarada; lembrou-se do reflexo de um boneco destruído por instintos.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Diálogo

_ Estou à procura de algo leve onde eu possa escorregar, mas tem que ser uma descida longa e íngreme, no entanto prazerosa e confortável. Sentir o vácuo em meu estomago e pensar em algo absoluto e distante. Só para ter a certeza de que tudo vai terminar quando eu chegar lá embaixo. Quando tocar os pés em algo sólido e sorrir em busca de uma nova queda. Alterada, áspera e falsa como a dor sutil das palavras de quem eu amo. _ Foi assim que ouvi o que não queria.

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_ Sempre quis encontrar um corpo que se inove e renove, que aconteça e estremeça, que sonhe e viaje em pensamentos delirantes de prazer. Sempre quis substituir a vontade curiosa de me doar e selecionar vantagens mórbidas sobre qualquer ele que me atraia. Queria encontrar aquele alguém que está aqui e ali. Que se encaixa e enrosca. Alguém capaz de voar e me dizer onde é o caminho mais próximo para o erro. Alguém que conheça a dor. Que tenha manias e correspondências nunca lidas. Uma versão equivocada de alguém perfeito. Existir ou não tal objeto ou desejo de consumo orgânico é de fato algo comum.
Eu tenho um alfabeto incompleto. Com ele posso ir além das linhas e criar palavras nunca pronunciadas, no entanto, somente com a letra que me falta consigo escrever o desfecho do que um dia será minha história. Simplesmente me aventuro em incríveis e improváveis sonhos alheios, ficção dos meus sentidos em meio à embriaguês do tempo. _ Disse eu confuso.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Prosa Patética: Distração

A idéia estabelecida de um pensamento imaginário pode alcançar em mim os poderes de lei, de criatura ou de criador. Sonhar com nossos desejos mais profundos não traz a animalidade da tragédia consigo. O medo de sonhar com a verdadeira realeza da vida sim. A felicidade é sonho. É encanto distante que se chega rápido, é alcançar o que ainda não se vê. Felicidade é mágica que se dilui em vida. É despertar em solo fértil. Mas cuidado! A realidade nos distrai e transforma em utopia nosso sonho solúvel.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Prosa sem sentido algum: Interessante

Durante essa semana apareceu em meu rosto duas gigantescas espinhas ou como queiram chamar esta protuberância nodosa sem nexo e sem argumento, e sem nenhum mandato judicial ou coisa parecida liberando que apossem e utilizem minha pele para fins próprios. Essas coisas aparecem e você não pode simplesmente retira-las, existe toda uma burocracia, o que leva tempo, a não ser que você queira ter uma cratera próximo de seu queixo. A paciência é um ótimo caminho nesta situação, o problema é estar na rua, no trabalho, no colégio com duas cerejas coladas ao seu rosto. Tentei pensar em coisas positivas e logo foi possível teleguiar essa situação a minha situação e idade cronológica. Feliz eu fiquei. Sou jovem ainda! Juventude que se deixa transparecer por irregularidades criadas ou ordenadas por não sei quem ou o que! O que dermatologicamente se sabe em relação a acnes ou outras anomalias da pele eu não sei. Mas sem duvida eu a genética e o que eu como tem algo que influencia nesta questão. Sem duvida existe jovens ou não, que são menos sortudos ou mais azarados que eu, tenho duas, mas esses jovens de que eu falo podem ter de seiscentos mil à um milhão de cada lado do rosto, coisas parecidas com campos minados. Mas esta indignação e repulsa em relação a bolha de meu rosto se delimita durante os momentos em que estou em frente ao espelho e durante os cinco minutos conseguintes envoltos de xingamentos e nomes ofensivos para com a bolha. Viver não se delimita a olhar no espelho, coisa que faço agora como forma de inspiração, interessante se esquecer de algo que incomoda tanto. Interessante poder esquecer algo que nos incomoda tanto. Interessante esquecer o que nos incomoda tanto. Interessante não se esquecer de não incomodar tanto. Interessante querer ser interessante sem incomodar tanto!

terça-feira, 26 de julho de 2011

O Monte Cinco

Paulo Coelho e o tempo são coisas que minha imaginação tenta dialogar com minha razão. Mas sempre termino entediado. Apesar de muito e de muitos, é a mesma e o mesmo. O tempo sobrevive e continua. Sempre existe algo capaz de lembrá-lo de dizer que existe. Acontecimentos, medos, opiniões, verdades. Tudo um tanto quanto sem rumo, um caminho que oferece o nada com direção. Imaginar pensar em tempo é ou pode ser se auto morrer ou se auto ressuscitar. Depende do referencial da procura do interlocutor. Ler Paulo Coelho me lembra ler Paulo Coelho. Como uma ponte que se ao acaso cairmos chegaremos em um mundo bíblico ou simplesmente na bíblia. As várias pontes criadas por ele seguem o caminho do referencial comum do ser humano, ultrapassa até o imaginário do querer. Saber descobrir a verdade e alcançar os ensinamentos deste denominador de magias bíblicas é onde encontra o mistério de si mesmo.

O silencio da morte chegou, e o vento parou de soprar. Elias não escutava mais os gritos lá fora, ou o fogo crepitando nas casas ao lado; ouvia apenas o silêncio, e quase podia tocá-lo, de tão intenso que era.
Então Elias afastou o menino, rasgou suas vestes e, voltando-se para os céus, bradou com toda a força de seus pulmões:
“Senhor meu Deus! Por tua causa saí de Israel, e não pude Te oferecer meu sangue, como fizeram os profetas que lá ficaram. Fui chamado de covarde por meus amigos, e de traidor, pelos meus inimigos.”

Trecho retirado do Livro “O monte Cinco” de Paulo Coelho



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Este exemplar era um dos poucos que ainda não havia lido. Poucas páginas, leitura tranqüila e enriquecida com histórias e parábolas do antigo testamento. Fui ligeiro ao terminar. Gostei. Conta a história de um profeta chamado Elias e de seu refugio na Fenícia. Onde descobre o amor, duvidas, verdades, injustiças, e nos tenta ensinar a guiar o próprio destino e confiar nos desígnios de Deus. Em livros assim, tipo Paulo Coelho. Caso esteja procurando algo, sempre encontra. Caso não esteja, se torna chato. Caso esteja procurando algo e finja para si mesmo que não, a leitura se torna insuportável.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Guarani



Tranqüilo, e sem ninguém potencialmente bom para me irritar resolvi escolher um livro para ler. Entre os muitos títulos mofados e sequelados me chamou atenção “O Guarani” de José de Alencar. Índios! Pensei. Nunca conheci um índio, e também não sei se daria certo com ele. Toda sua comida extraída do solo, o esforço para se sobreviver na selva e tals. Pescar, caçar, plantar, comer mandioca. Indios são no mínimo estranhos. Imagine se pensarmos em índios de 1604, inicio do século XII?
No entanto, as tribos guerreiras e sua moral indianista mostraram o valor indígena, em personagens e atos de nobreza. Neste momento estava no inicio de minha jornada. Minha curiosidade já estava aguçada e havia tempos que não lia algo que não fosse do século XX ou XXI, literatura clássica me faria bem.
Logo nos primeiros trechos ficou claro a beleza da linguagem e a natureza idealizada pelo autor, a valorização da fauna e da flora e a riqueza dos personagens. Peri, o índio e herói. Ceci, deusa que ilumina o mundo e mimosa faceirice. Entre esses dois personagens havia a família de Ceci e aqueles que de bom grado fariam o serviço do mal. Nesta encruzilhada do destino se transcorre a história onde nascerá o povo do Brasil. O amor sublime e devoto de Peri se misturava com os amores dos homens mortais. Ceci bela, nobre e pura. Havia em si a graciosa timidez que perfuma as primeiras flores do coração. O desconhecido instinto dos homens se personifica em candidatos a consorte de Ceci. O combate, a vilania e a tragédia, nenhum alçou à condição de Peri.

“A menina lembrou-se do seu despertar tão plácido de outrora, de suas manhãs tão descuidosas, de sua prece alegre e risonha em que agradecia a Deus a ventura que vertia sobre ela e sua família.
Uma lágrima pendeu nos cílios dourados e caiu sobre a face de Peri; abrindo os olhos e vendo ainda a mesma doce visão que o adormecera, o índio julgou que o sonho continuava.
Cecília sorriu-lhe; e passou a mãozinha pelas pálpebras ainda meio cerradas de seu amigo:
— Dorme, disse ela, dorme; Ceci vela.
A música dessas palavras despertou completamente o selvagem.
— Não! balbuciou ele envergonhado de ter cedido à fadiga. Peri sente-se forte.
— Mas tu deves ter necessidade de repouso! Há tão pouco tempo que adormeceste!
— O dia vai raiar; Peri deve velar sobre sua senhora.
— E por que tua senhora não velará também sobre ti? Queres tomar tudo; e não me deixas nem mesmo a gratidão!
O índio lançou um olhar cheio de admiração a menina:
— Peri não entende o que tu dizes. A rolinha quando atravessa o campo e sente-se fatigada, descansa sobre a asa de seu companheiro que é mais forte; e ele que guarda o seu ninho enquanto ela dorme, que vai buscar o alimento, que a defende e que a protege. Tu és como a rolinha, senhora.
Cecília corou da comparação ingênua de seu amigo.
— E tu? perguntou ela confusa e trêmula de emoção.
— Peri... é teu escravo, respondeu o índio naturalmente.”

Trecho retirado do livro “O Guarani” de José de Alencar.

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Conheci Peri ao ler seus músculos, sua fala, sua agilidade, sua inteligência, sua audácia e coragem. Homem e índio, exterminador de inimigos e benevolente com os justos. Carregou consigo o maior amor que já existiu, O herói do Brasil.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

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Toda Palavra


Procuro uma palavra que me salve

Pode ser uma palavra verbo

Uma palavra vespa, uma palavra casta.

Pode ser uma palavra dura. Sem carinho.

Ou palavra muda,

molhada de suor no esforço da terra não lavrada.

Não ligo se ela vem suja, mal lavada.

Procuro uma coisa qualquer que saia soada do nada.

Eu imploro pelos verbos que tanto humilhei

e reconsidero minha posição em relação aos adjetivos.

Penso em quanta fadiga me dava

o excesso de frases desalinhadas em meu ouvido.

Hoje imploro uma fala escrita,

não pode ser cantada.

Preciso de uma palavra letra

grifada grafia no papel.

Uma palavra como um porto

um mar um prado

um campo minado um contorno

carrossel cavalo pente quebrado véu

mariscos muralhas manivelas navalhas.

Eu preciso do escarcéu soletrado

Preciso daquilo que havia negado

E mesmo tendo medo de algumas palavras

preciso da palavra medo como preciso da palavra morte

que é uma palavra triste.

Toda palavra deve ser anunciada e ouvida.

Nunca mais o desprezo por coisas mal ditas.

Toda palavra é bem dita e bem vinda.



Viviane Mosé


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quinta-feira, 5 de maio de 2011




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Nasceram neste dia…


1813 - Søren Kierkegaard, filósofo dinamarquês (morreu em 1865)
1818 - Karl Marx, filósofo e teórico político alemão (morreu em 1883)



Morreram neste dia…


1821 - Napoleão Bonaparte, estadista francês (nasceu em 1769)
1892 - August Wilhelm von Hofmann, químico alemão (nasceu em 1818)



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bláh !!!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

AMOR BASTANTE

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto



Paulo Leminski

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terça-feira, 3 de maio de 2011


“Ajoelhei-me e toquei o chão. Era urina. Estava tão fria quanto o piso de concreto pintado. Uma poça se formara debaixo da moça sem nome. Olhei para cima e vi uma gota única de urina pender do dedo grande de seu pé descalço e brilhar ao cair no chão. Levantei-me depressa. Aquela urina me deixou muito deprimida. Não quis acordar as outras duas porque elas também acabariam vendo-a, e aí todas nós a teríamos visto e então ninguém mais poderia fingir que não existia. Não sei porque a pequena poça de urina me fez começar a chorar. Não sei por que a cabeça da gente escolhe essas pequenas coisas para nos fazer desmoronar.”
Chris Cleave, retirado do livro "Pequena Abelha"

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Entre soluços, contrações do diafragma e abruptos fluxos de ar, vivi minutos na livraria e o comprei. E o li. Poucos profetas conjuram um mordaz destino a personagens como abelhinha. No entanto, sua vida desafortunada nos enche o coração de verdade. Sua fria alegria e vivacidade camuflada nos envia para um paralelo e corajoso mundo de realidade. Onde as desgraças sussurram em nossas orelhas, e em embriagados aplausos retribuímos com estima o encanto das crianças.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

International Observer

Durante o passado de nossas memórias as imagens do sublime permanecem intactas. Olhando para trás, vejo o inicio de algo que pode vir a ser hoje. Em uma mesa de plástico pueril, estavam bebidas e meu desejo de dialogar com o jovem que chegara. Reflexos duvidosos e o incontrolável medo de me arrepender tornaram meu pensar palavras doces. Não obstante foi por momentos vis que em sua companhia consegui respostas vagas e singelas, algo sobre musicas e comportamentos interessantes que este trazia em suas vestes e olhar de menino. Pelos momentos seguintes, apenas lhe olhar era capaz de reproduzir o eco de muitas outras respostas nunca pronunciadas pela boca do que em processo de vitória me entregava a incerteza. Estranho. O tempo, força maior e inquestionável. Enganaste minha mente, ou fizeste de mim brinquedo de seu agrado, dobrou-me em vastos dias e horas. Por vezes esqueci a existência do que se passou, por vezes inventei existências que me agradassem. Por vezes sonhei com fantasmas imaginando o anjo. Até que por fim, depois de viajar através de processos etílicos, em uma taberna simplória e rica de mentes saltitantes, sob meus olhos a completa imagem do passado se apresenta. O passado como forma de presente se vela de inúmeras incertezas, e assim permaneci em ignorantes minutos. Confuso, instigado. Como posso lembrar de algo afundado na memória de meu ser? Como posso sonhar com o passado e deixar o futuro para trás? A transparente doçura de minimalistas detalhes regurgitou os prazeres a tempos desejados. A peculiaridade de cabelos leves e revoltos, no entanto sem a rudeza de se tornar um dos últimos moicanos. A possibilidade de interromper tamanha descoberta pela minha jovem memória era inescrupulosa e indecente. Sonhar sempre foi algo prazeroso mas o olhar sobre o que se deseja é por vezes maior. E mergulhado em pensamentos, vim a pensar sobre como Vermeer teria pintado uma pérola e sua linda garota. Sob meus olhos não eram brincos, nem tão pouco pérolas. Eram instrumentos de uma sociedade em movimento. A marca de que um lindo novo começo. Alargar e expandir. Talvez esse seja sobre sua vontade ainda desconhecida o novo modo de pensar sobre as relações humanas, eu ali como condição de humano inevitavelmente me relacionei com esse pensamento sóbrio de desejo. Meu disfarce em entregar a vontade de lhe tocar me fez sua pele em pensamentos, a loucura em pele branca e fina. As sucessivas vontades me trouxe a acuidade de seus olhos, olhares ousados me surpreenderam e a suprema tensão de meu ímpeto desejo se transformou em loucura.