sexta-feira, 6 de maio de 2011

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Toda Palavra


Procuro uma palavra que me salve

Pode ser uma palavra verbo

Uma palavra vespa, uma palavra casta.

Pode ser uma palavra dura. Sem carinho.

Ou palavra muda,

molhada de suor no esforço da terra não lavrada.

Não ligo se ela vem suja, mal lavada.

Procuro uma coisa qualquer que saia soada do nada.

Eu imploro pelos verbos que tanto humilhei

e reconsidero minha posição em relação aos adjetivos.

Penso em quanta fadiga me dava

o excesso de frases desalinhadas em meu ouvido.

Hoje imploro uma fala escrita,

não pode ser cantada.

Preciso de uma palavra letra

grifada grafia no papel.

Uma palavra como um porto

um mar um prado

um campo minado um contorno

carrossel cavalo pente quebrado véu

mariscos muralhas manivelas navalhas.

Eu preciso do escarcéu soletrado

Preciso daquilo que havia negado

E mesmo tendo medo de algumas palavras

preciso da palavra medo como preciso da palavra morte

que é uma palavra triste.

Toda palavra deve ser anunciada e ouvida.

Nunca mais o desprezo por coisas mal ditas.

Toda palavra é bem dita e bem vinda.



Viviane Mosé


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quinta-feira, 5 de maio de 2011




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Nasceram neste dia…


1813 - Søren Kierkegaard, filósofo dinamarquês (morreu em 1865)
1818 - Karl Marx, filósofo e teórico político alemão (morreu em 1883)



Morreram neste dia…


1821 - Napoleão Bonaparte, estadista francês (nasceu em 1769)
1892 - August Wilhelm von Hofmann, químico alemão (nasceu em 1818)



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bláh !!!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

AMOR BASTANTE

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto



Paulo Leminski

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terça-feira, 3 de maio de 2011


“Ajoelhei-me e toquei o chão. Era urina. Estava tão fria quanto o piso de concreto pintado. Uma poça se formara debaixo da moça sem nome. Olhei para cima e vi uma gota única de urina pender do dedo grande de seu pé descalço e brilhar ao cair no chão. Levantei-me depressa. Aquela urina me deixou muito deprimida. Não quis acordar as outras duas porque elas também acabariam vendo-a, e aí todas nós a teríamos visto e então ninguém mais poderia fingir que não existia. Não sei porque a pequena poça de urina me fez começar a chorar. Não sei por que a cabeça da gente escolhe essas pequenas coisas para nos fazer desmoronar.”
Chris Cleave, retirado do livro "Pequena Abelha"

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Entre soluços, contrações do diafragma e abruptos fluxos de ar, vivi minutos na livraria e o comprei. E o li. Poucos profetas conjuram um mordaz destino a personagens como abelhinha. No entanto, sua vida desafortunada nos enche o coração de verdade. Sua fria alegria e vivacidade camuflada nos envia para um paralelo e corajoso mundo de realidade. Onde as desgraças sussurram em nossas orelhas, e em embriagados aplausos retribuímos com estima o encanto das crianças.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

International Observer

Durante o passado de nossas memórias as imagens do sublime permanecem intactas. Olhando para trás, vejo o inicio de algo que pode vir a ser hoje. Em uma mesa de plástico pueril, estavam bebidas e meu desejo de dialogar com o jovem que chegara. Reflexos duvidosos e o incontrolável medo de me arrepender tornaram meu pensar palavras doces. Não obstante foi por momentos vis que em sua companhia consegui respostas vagas e singelas, algo sobre musicas e comportamentos interessantes que este trazia em suas vestes e olhar de menino. Pelos momentos seguintes, apenas lhe olhar era capaz de reproduzir o eco de muitas outras respostas nunca pronunciadas pela boca do que em processo de vitória me entregava a incerteza. Estranho. O tempo, força maior e inquestionável. Enganaste minha mente, ou fizeste de mim brinquedo de seu agrado, dobrou-me em vastos dias e horas. Por vezes esqueci a existência do que se passou, por vezes inventei existências que me agradassem. Por vezes sonhei com fantasmas imaginando o anjo. Até que por fim, depois de viajar através de processos etílicos, em uma taberna simplória e rica de mentes saltitantes, sob meus olhos a completa imagem do passado se apresenta. O passado como forma de presente se vela de inúmeras incertezas, e assim permaneci em ignorantes minutos. Confuso, instigado. Como posso lembrar de algo afundado na memória de meu ser? Como posso sonhar com o passado e deixar o futuro para trás? A transparente doçura de minimalistas detalhes regurgitou os prazeres a tempos desejados. A peculiaridade de cabelos leves e revoltos, no entanto sem a rudeza de se tornar um dos últimos moicanos. A possibilidade de interromper tamanha descoberta pela minha jovem memória era inescrupulosa e indecente. Sonhar sempre foi algo prazeroso mas o olhar sobre o que se deseja é por vezes maior. E mergulhado em pensamentos, vim a pensar sobre como Vermeer teria pintado uma pérola e sua linda garota. Sob meus olhos não eram brincos, nem tão pouco pérolas. Eram instrumentos de uma sociedade em movimento. A marca de que um lindo novo começo. Alargar e expandir. Talvez esse seja sobre sua vontade ainda desconhecida o novo modo de pensar sobre as relações humanas, eu ali como condição de humano inevitavelmente me relacionei com esse pensamento sóbrio de desejo. Meu disfarce em entregar a vontade de lhe tocar me fez sua pele em pensamentos, a loucura em pele branca e fina. As sucessivas vontades me trouxe a acuidade de seus olhos, olhares ousados me surpreenderam e a suprema tensão de meu ímpeto desejo se transformou em loucura.