quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Guarani



Tranqüilo, e sem ninguém potencialmente bom para me irritar resolvi escolher um livro para ler. Entre os muitos títulos mofados e sequelados me chamou atenção “O Guarani” de José de Alencar. Índios! Pensei. Nunca conheci um índio, e também não sei se daria certo com ele. Toda sua comida extraída do solo, o esforço para se sobreviver na selva e tals. Pescar, caçar, plantar, comer mandioca. Indios são no mínimo estranhos. Imagine se pensarmos em índios de 1604, inicio do século XII?
No entanto, as tribos guerreiras e sua moral indianista mostraram o valor indígena, em personagens e atos de nobreza. Neste momento estava no inicio de minha jornada. Minha curiosidade já estava aguçada e havia tempos que não lia algo que não fosse do século XX ou XXI, literatura clássica me faria bem.
Logo nos primeiros trechos ficou claro a beleza da linguagem e a natureza idealizada pelo autor, a valorização da fauna e da flora e a riqueza dos personagens. Peri, o índio e herói. Ceci, deusa que ilumina o mundo e mimosa faceirice. Entre esses dois personagens havia a família de Ceci e aqueles que de bom grado fariam o serviço do mal. Nesta encruzilhada do destino se transcorre a história onde nascerá o povo do Brasil. O amor sublime e devoto de Peri se misturava com os amores dos homens mortais. Ceci bela, nobre e pura. Havia em si a graciosa timidez que perfuma as primeiras flores do coração. O desconhecido instinto dos homens se personifica em candidatos a consorte de Ceci. O combate, a vilania e a tragédia, nenhum alçou à condição de Peri.

“A menina lembrou-se do seu despertar tão plácido de outrora, de suas manhãs tão descuidosas, de sua prece alegre e risonha em que agradecia a Deus a ventura que vertia sobre ela e sua família.
Uma lágrima pendeu nos cílios dourados e caiu sobre a face de Peri; abrindo os olhos e vendo ainda a mesma doce visão que o adormecera, o índio julgou que o sonho continuava.
Cecília sorriu-lhe; e passou a mãozinha pelas pálpebras ainda meio cerradas de seu amigo:
— Dorme, disse ela, dorme; Ceci vela.
A música dessas palavras despertou completamente o selvagem.
— Não! balbuciou ele envergonhado de ter cedido à fadiga. Peri sente-se forte.
— Mas tu deves ter necessidade de repouso! Há tão pouco tempo que adormeceste!
— O dia vai raiar; Peri deve velar sobre sua senhora.
— E por que tua senhora não velará também sobre ti? Queres tomar tudo; e não me deixas nem mesmo a gratidão!
O índio lançou um olhar cheio de admiração a menina:
— Peri não entende o que tu dizes. A rolinha quando atravessa o campo e sente-se fatigada, descansa sobre a asa de seu companheiro que é mais forte; e ele que guarda o seu ninho enquanto ela dorme, que vai buscar o alimento, que a defende e que a protege. Tu és como a rolinha, senhora.
Cecília corou da comparação ingênua de seu amigo.
— E tu? perguntou ela confusa e trêmula de emoção.
— Peri... é teu escravo, respondeu o índio naturalmente.”

Trecho retirado do livro “O Guarani” de José de Alencar.

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Conheci Peri ao ler seus músculos, sua fala, sua agilidade, sua inteligência, sua audácia e coragem. Homem e índio, exterminador de inimigos e benevolente com os justos. Carregou consigo o maior amor que já existiu, O herói do Brasil.

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