quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Bicho Solto

Já se imaginou a decadência de um ser vivo enlameado por linhas retas? Era tudo sempre reto e certo; como um rastro de lama deixado por uma lesma capitalista. Sempre seguir em frente. O que acontece quando uma paralela gostosa e sem limites cruza o seu caminho? O prazer de ser torto, envergado diante da sociedade se limita rapidamente a escoliose de um submundo monstruoso. A verdade triste de rosas murchas, nascidas em jardins babilônicos se enreda por terrenos daninhos e fertilizam a cruel realidade e o fim. A vida acelera o tempo quando mergulhamos em imagens deturpadas do ser. Quando se percebe o labirinto em que entrou o pranto pensa na lesma. Mas, você se tornou lento ou a lesma ganhou velocidade? Alcançá-la se torna primordial para ressuscitar sua vida. Embora suas pernas se embaracem, sua visão fique turva, o mundo gire e sua boca seque. Correr e deixar para traz a falsa adrenalina das curvas é o único modo de caminhar vivo ao lado da lesma merda do cotidiano. Abraçar e beijar o que resta do caminho, tentar desembaraçar para sempre o nó de outrora.
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O livro Bicho Solto de Fred Pinheiro nos conta de forma simples como é conhecer e reconhecer o labirinto a sua volta. Ir à procura de sua lesma e encontrá-la. Imaginei muitas pessoas durante a leitura; reconheci e me perguntei se também conseguiriam. Olhei para o céu e nuvens negras me ameaçavam; fechei os olhos e o vento tocou meu rosto, uma lesma em meu rosto.



“ Já nem me preocupava em injetar na veia água destilada com a cocaína. Usava água mineral, água de bica, água das mangueiras dos jardins dos prédios, a primeira água que surgisse pala minha frente. Mas nem água era necessário. Pois, em caso de aperto, utilizava meu próprio sangue. Retirava-o da veia, com a seringa, dissolvia nela a droga e injetava a mistura de volta para dentro.
Se tivesse de traçar uma esquina em minha vida, identificando o momento exato em que a euforia das drogas se transformou no inferno das drogas, diria que foi no segundo semestre de 1977. A barra começou a pesar de verdade.”
Pag. 58
Bicho Solto – O mergulho de um menino do Rio no mundo das drogas
Fred Pinheiro em depoimento a Ivan Sant’anna

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